terça-feira, 11 de junho de 2013

Gente do bem

“Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (Romanos, 12:21) 

Em meio ao trânsito desordenado, um motorista
gentilmente cede-me passagem. Visito um ex-professor na faculdade que prazerosamente percorre
toda a instituição mostrando-me a evolução da infraestrutura local e as melhorias implementadas na
qualidade do ensino. Apresento um cliente a um
gerente de banco que imediatamente toma
providências no sentido de atender às suas
necessidades. Recebo um breve telefonema de um
amigo com quem não falava há tempos apenas para
saudar lembranças.
Cenas aparentemente fúteis, talvez até desprovidas de
motivação para serem memorizadas. Porém, cenas
capazes de colorir com satisfação e gratidão um dia
como outro qualquer. Dizem que Deus está nos
detalhes. Nós é que não percebemos...
Como tudo na vida, estamos sujeitos a situações opostas às que acabo de relatar. De
um motorista que quase provoca um acidente para evitar ser ultrapassado a
profissionais de atendimento ao público que prestam um verdadeiro desserviço pela
falta de atenção e empatia, quem já não perdeu o bom humor pela ausência de um
cumprimento matinal de um familiar, por um comentário depreciativo ou jocoso de um
colega de trabalho, por uma reprimenda pública e desmesurada?
Quando pequenos, somos ensinados a fazer o bem. Isso pode ser traduzido por praticar
uma “boa ação” diária, coisas novamente pouco relevantes como ajudar um idoso a
atravessar a rua – essa é uma imagem emblemática para mim. Fazer o bem em escala
maior é missão para super-heróis dotados de superpoderes, aptos a salvar toda a
humanidade, promovendo a justiça e combatendo o mal.
Nossas pernas crescem e nossa imaginação encurta. Então, descobrimos que não há
super-heróis, não há superpoderes, a humanidade não pode ser salva, a justiça é
utópica e o mal viceja. Por isso, desistimos de ajudar os idosos a atravessarem a rua e
deixamos de pronunciar palavras de agradecimento, apoio e conforto aos que nos
cercam. Assim, paramos de praticar o bem. E perdemos a capacidade de enxergá-lo.
A vida, tomada racionalmente, não é fácil para a maioria das pessoas. Quando se tem
saúde, não se tem trabalho. Quando se tem trabalho, não se ganha o suficiente.
Quando se ganha o suficiente, não se tem reconhecimento. Quando se tem
reconhecimento, não se tem paixão. Quando se tem paixão, não se encontra o amor.
Quando se encontra o amor, falta a saúde...
Cada um de nós tem uma missão a cumprir. E cada missão vem embalada em um fardo
que não é nem grande, nem pequeno, mas na medida exata do que podemos suportar.
Uns têm fardos maiores que outros. Alguns enfrentam adversidades mais contundentes.
Mas todos têm limitações. Se os super-heróis do bem nos parecem tão figurativos, as personagens do mal
materializam-se, ganhando carne e osso e uma habilidade ímpar em nos assediar. É
neste momento que temos que buscar o que temos de melhor, não com base na sorte
ou em fatores externos, mas em nossa força interior. E direcionar este potencial para o
caminho do bem.
Shakespeare dizia que “o mal que os homens fazem vive depois deles enquanto o bem
é quase sempre enterrado com seus ossos”. Costumo pontuar que é muito importante
tomar cuidado com as palavras. Quando você diz algo que desagrada a alguém, pouca
valia haverá em se desculpar a posteriori. Porque não importa o que você disse, mas
importa o que ficou depois do que você disse.
Fazer o bem faz bem. O bem despretensioso, genuíno, sem paga. É caminhada que não
desgasta os sapatos, subida que não cansa. É fonte de prazer e de alegria.

Tom Coelho

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